Predestinação e livre-arbítrio no conceito yorùbá de
pessoa[1]
Ọlátúnjí Ayọọlá
Oyèsílé[2]
Tradução de Mário Filho
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Imagem disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:131years_old_priestesses_living_under_the_OlumoRock_Ancient_rock_in_Beokuta_city_of_Ogun_State,_Nigeria,_Africa.jpg |
INTRODUÇÃO
Neste
artigo, examinamos as aparentes contradições e paradoxos que são inerentes ao
conceito metafísico da pessoa no sistema tradicional de crenças yorùbá,
especialmente no que diz respeito à questão da predestinação e do livre
arbítrio. Os yorùbá acreditam que uma pessoa teve sua biografia ou história de
vida escrita antes de entrar no mundo (por meio do nascimento). É essa
biografia que a pessoa vem ao mundo para cumprir - como pode ser vista na noção
de Orí (cabeça interior / destino), que é descrita de várias maneiras como Ayànmọ́
(destino que está afixado em uma pessoa, que está além do controle humano e não
pode ser alterado, uma vez que o homem é criado com ele, permanecendo assim até
o fim de sua vida terrena), Àkúnlẹ̀yàn (destino que é escolhido e recebido enquanto
se está ajoelhado) e Àkúnlẹ̀gbà (destino que é recebido enquanto se está ajoelhado).
As perguntas que surgem de nossa concepção do destino são: Onde, então, é o
lugar da liberdade humana em relação às forças metafísicas? A vida do indivíduo
é predestinada ou predeterminada? Que atitude o indivíduo adota diante de
alguns desses valores conflitantes? Por exemplo, ele simplesmente se resigna ao
destino e considera que "o que será, será" ou luta para formar um
significado a partir do "fluxo da vida" existente?
Neste
artigo se discute que as contradições e paradoxos inerentes ao conceito yorùbá
de pessoa são solucionáveis em sua atitude em relação a questões concretas da
vida e da existência. A atitude prática dos yorùbá não apresenta a crença na
predestinação como fatalista, uma vez que o indivíduo, ainda, escolhe seu
próprio plano de vida e trabalha para sua realização.
Em
vez disso, sua crença na predestinação é um construto explicativo que
proporciona satisfação emocional e psicológica aos yorùbá quando eles não têm
razões naturais, físicas, práticas e empíricas para explicar eventos e ações
que os afetam.
ANÁLISE DA
PREDESTINAÇÃO E DO LIVRE-ARBÍTRIO NA ONTOLOGIA YORÙBÁ
As
opiniões dos estudiosos yorùbá variam sobre a questão da predestinação e da
liberdade humana. Alguns estudiosos, por exemplo, Wándé Abímbọ́lá[3],
mantêm uma interpretação rigidamente fatalista da predestinação, sugerindo,
assim, que a liberdade humana é ilusória, porque nem mesmo os deuses podem mudar
o Orí [destino].
Para
saber por que esse é o caso, vamos considerar a essência do Orí. (Note-se que
estamos aqui usando Orí não apenas como a cabeça física humana, mas como a
cabeça não-física ou interior conhecida metafisicamente como destino).
Diz-se
que o Orí é a essência da sorte e a força mais importante responsável pelo
sucesso ou fracasso humano.[4]
O Orí governa a vida do indivíduo e se comunica com outras divindades em seu
nome. Além disso, diz-se que aquilo que não foi aprovado pelo Orí de alguém não
pode ser aprovado pelas divindades.[5]
Isso reforça a crença na predestinação, porque o conteúdo da vida de um
indivíduo depende da escolha do Orí. Em termos de conteúdo, pode ser uma vida
bem-sucedida, uma vida fracassada, uma vida curta ou uma vida abundante.[6]
No
que diz respeito à natureza simpatética[7]
do Orí, Abímbọ́lá diz que mostra mais simpatia ao indivíduo do que a qualquer
deus.[8]
Portanto, o Orí é seu deus pessoal e está mais interessado no bem-estar dessa
pessoa. Portanto, se uma pessoa precisa de algo, deve primeiro fazer com que
seu desejo seja conhecido por seu Orí antes de qualquer outra divindade.[9]
E se o Orí de um homem não estiver em harmonia com sua causa, nenhum deus harmonizará
com ele e, consequentemente, ele não terá aquilo que deseja. O Orí que foi
selecionado para um indivíduo no céu não pode ser alterado na terra e "de
fato os próprios deuses não estão em posição de alterar o destino de um homem."[10]
Do
exposto, podemos ver que é dada uma interpretação fatalista da predestinação,
na qual o indivíduo não tem o direito de exercer qualquer liberdade, uma vez
que tudo foi selado pelo Orí [destino] de um indivíduo. No entanto, por mais
fatalista que seja, Abímbọ́lá ainda tenta explicar o fato da liberdade humana
por Ìwà Pẹ̀lẹ́ (caráter gentil e benfazejo), uma explicação que, em nossa
opinião, não explica totalmente a liberdade do indivíduo. Ademais, isso é
contrariado por sua afirmação de que a maioria das pessoas escolhe um Orí ruim
e que a tentativa de alterá-lo é inútil. Até o ẹbọ (sacrifício religioso), em
vez de ser visto como um meio de mudar o destino humano, é visto por Abímbọ́lá
como um meio de comunicação simbólica e ritual entre todas as forças do universo.[11]
A questão da liberdade do homem ou
da sua falta de autonomia pode ser colocada assim: “que papel é reservado para
os seres humanos no universo yorùbá, onde o indivíduo não pode agir
independentemente de seu Orí e onde está à mercê de dois grupos poderosos,
benevolente e malévolo, de poderes sobrenaturais a quem ele tem que fazer
sacrifícios incessantemente para sobreviver? O indivíduo realmente importa
nesse sistema?”[12]
Ìwà
Pẹ̀lẹ́, como afirmado anteriormente, é usado por Abímbọ́lá para explicar a liberdade
humana. Segundo ele, Ìwà Pẹ̀lẹ́ e outros princípios menores, como àyà (peito) e
ẹsẹ̀ (perna), ajudam a resgatar o homem da estrutura autoritária e hierárquica
do universo, no sentido de que eles ajudam o indivíduo a regular sua vida e a
evitar colisões com os poderes sobrenaturais, por um lado, e com seus
semelhantes, por outro.[13]
A razão dada para isso é que Ìwà (caráter) é um dos objetivos da existência
humana e Ìwà Pẹ̀lẹ́ (caráter gentil e benfazejo) ajuda o indivíduo a alcançar
seus objetivos.
O
uso de Ìwà Pẹ̀lẹ́ por Abímbọ́lá para explicar o fato da liberdade humana não é exitoso.
Isso ocorre porque nos dizem apenas que Ìwà Pẹ̀lẹ́ ajudará o indivíduo a evitar
colisões com forças sobrenaturais e viver em paz com outros seres humanos;
porém, quando falamos de liberdade humana, não queremos dizer apenas isso; antes,
estamos pensando em uma situação em que o indivíduo exerce certa autonomia
referente a questões que afetam sua existência. Abímbọ́lá sugere que muitas
pessoas que escolhem o Orí errado no Céu fadadas ao fracasso na Terra,[14]
e qualquer tentativa de mudar esse Orí ruim é uma luta infrutífera e sem fim
para alcançar o impossível. Isso é sustentado pelo seguinte ẹsẹ̀ Ifá:
Bí
ó bá ṣe pé gbogbo orí gbogbo ní í sun pósí
Ìrókò
gbogbo ìbá ti tán n'ígbó
A
díá fún igba ẹni
Tí
ń ti Ìkọ̀lé ọ̀run bọ̀wá sí t'ayé
Bí
ó bá ṣe pé gbogbo orí gbogbo ní í sun pósí
Ìrókò
gbogbo ìbá ti tán n'ígbó
A
díá fún Òwèrè
Tí
ń ti Ìkọ̀lé ọ̀run bọ̀wá sí t'ayé
Òwèrè
là ń jà
Gbogbo
wa
Òwèrè
là ń jà
Ẹní
t'o yan'rí rere kò wọ́pọ̀
Òwèrè
là ń jà
Gbogboo
wa
Òwèrè
là ń jà[15]
Se
todos os homens estivessem destinados a serem enterrados em caixões,
Todas
as árvores de Ìrókò teriam sido cortadas na floresta
Consultou-se
Ifá para duzentos homens
Quando
vinham do céu para a terra
Se
todos os homens estavam destinados a serem enterrados em caixões,
Todas
as árvores de iroko teriam sido cortadas na floresta
Consultou-se
Ifá para a luta
Quando
vinha do céu para a terra
Estamos
apenas lutando
Todos
nós
Estamos
apenas lutando.
Aqueles
que escolheram bons destinos não são muitos
Estamos
apenas lutando
Todos
nós
Estamos
apenas lutando.
O
relato acima de Abímbọ́lá mostra que a liberdade humana é uma ilusão diante da
predestinação: é claro que parece haver algumas contradições e inconsistências
em seu relato. Por exemplo, se o destino não pode ser mudado nem pelos deuses,
então qual é a necessidade de Ìwà Pẹ̀lẹ́ e ẹbọ sugerida como panaceia? Talvez o
que Abímbọ́lá está tentando nos apresentar é que Orí é um potente fator causal
na existência humana. Apesar de sua afirmação, segundo a qual Orí é inalterável
e, portanto, a liberdade humana é ilusória, muitos estudiosos tentaram
encontrar um equilíbrio entre predestinação e liberdade humana. Ìdòwú (1962),
Mákindé (1984), Gbádégeṣin (1998), Ògúngbèmí (1992) e Ọládipọ̀ (1992)
mostram que podemos acomodar facilmente a liberdade humana dentro do modelo
explicativo de predestinação.[16]
Eles sustentam seus argumentos utilizando as seguintes razões: (1) a
predestinação é uma espécie de convênio entre duas partes e, se for o caso, as
duas partes sempre podem revisar esse convênio; (2) o uso do sacrifício por
meio de Ọ̀rúnmìlà, que também pode ajudar a alterar um destino ruim; (3) Ìwà (caráter)
desempenha um papel vital também para melhorar ou mudar o destino de uma
pessoa. Existem mitos que sugerem que Olódùmarè (Deus) pode ter simpatia pelas
pessoas que são bem-comportadas; (4) o livre-arbítrio dos seres humanos é
retratado em sua existência cotidiana prática, na qual a diligência, a formação
de caráter, a responsabilidade moral e a prudência desempenham papéis vitais; e
(5) é até sugerido que, uma vez que cada pessoa se ajoelha, como indivíduo,
para escolher seu Orí, sua liberdade foi estabelecida desse período em diante.
Muitos estudiosos parecem concordar
que a predestinação é um modelo explicativo que é utilizado quando faltam
explicações naturais para certas ocorrências. É pertinente, no entanto,
examinar algumas das maneiras pelas quais a individualidade e, portanto, a
liberdade humana foram explicadas, dada a noção de Orí.
A
cosmologia yorùbá, argumenta Ògúngbèmí, apresenta a imagem do homem como um
indivíduo solitário que é deixado a percorrer seu caminho através de uma
variedade de forças, algumas benignas, outras hostis, muitas ambivalentes,
buscando aplacá-las. Em todas as suas tarefas, o homem só é auxiliado por seu
Orí, destino, escolhido por ele mesmo antes de vir à terra.[17]
Esse
posicionamento é apoiado por Ìdòwú, quando diz que é o Orí [cabeça] que se
ajoelha diante de Olódùmarè para escolher, receber ou ter o destino fixado a ele.
A imagem, portanto, é de uma pessoa ajoelhada diante de Olódùmarè para escolher
ou receber.[18]
Portanto, somos obrigados a aceitar que, pelo exposto, pressupõe liberdade de
escolha, de ação e de responsabilidade moral.[19]
Pode-se
argumentar, no entanto, que as várias posições acima não estabelecem completamente
a liberdade do homem. Primeiro, Orí (cabeça interior/destino), no sentido
metafísico, tem uma natureza paradoxal e ambivalente, no sentido de que faz
parte do indivíduo, pois é a cabeça interior de uma pessoa ou o portador de seu
destino. Em outro nível, Orí [destino] não faz parte do indivíduo, porque é o
que o Ser Supremo (Olódùmarè) impôs a ele, determinando-o ou pelo indivíduo
fazendo uma escolha do Orí por trás de um véu de ignorância, pois ele não sabe
sobre o Orí que escolherá. Afinal, o indivíduo não construiu o Orí sozinho. Ele
teve que escolher entre os vários Orí que já haviam sido feitos.
Em
segundo lugar (e esse argumento está relacionado ao primeiro), quando olhamos
para vários nomes que um destino individual ostenta ou para os processos pelos
quais escolhemos os Orí, não podemos deixar de negar a autonomia do homem. Por
exemplo, certas coisas podem ser ditas nos termos Àkúnlẹ̀yàn, Ayànmọ́ e
Àkúnlẹ̀gbà. Àkúnlẹ̀yàn significa aquilo que é escolhido enquanto se ajoelha.
Embora pressuponha um elemento de escolha do Orí, não há escolha real porque os
vários Orí já estavam preparados e o indivíduo está escolhendo sob o véu da
ignorância. Então ele tem uma escolha forçada. Há uma lenda que diz que Àjàlá,
o oleiro que moldou o Orí, era muito corrupto e, portanto, podia dar um Orí
ruim àqueles que não o subornavam. Àkúnlẹ̀gbà significa escolha em que parte
dela vem de sua própria escolha, mas há outra que não. Ayànmọ́ significa aquilo
que está afixado em uma pessoa, não há escolha e não é muito diferente de Àkúnlẹ̀gbà.
De
nossa análise, pode-se tentar argumentar que, no nível metafísico, o indivíduo
não tem liberdade e, portanto, não podemos falar sobre responsabilidade moral
ou qualquer outra responsabilidade. No entanto, a crença na predestinação se
opõe à vida prática do povo yorùbá.
Vemos
os yorùbá tentando combinar duas crenças incompatíveis ou tentando fazer uma se
conformar à outra. Argumentou-se que a crença na predestinação não é
incompatível com a crença no livre arbítrio. Ọládipọ̀, por exemplo, sugere
que, embora os yorùbá adotem o determinismo, é impróprio dar uma interpretação
fatalista da noção yorùbá de destino.[20] Argumenta que a
atitude yorùbá em relação à vida está em desacordo com o fatalismo. O fatalismo
é a doutrina que:
Todo
evento foi pré-ordenado e as causas dos eventos estão fora de nós mesmos; que o
que quer que ocorra, ocorrerá independentemente do que fazemos; que não podemos
agir, uma vez que os eventos estão além do nosso controle, que não há
alternativas; essa deliberação é ilusória.[21]
Quais
são essas atitudes que contradizem o fatalismo, conforme definido acima? Os yorùbá
acreditam que o destino pode ser mudado por meio de Ọ̀rúnmìlà; crendo em divinação
e sacrifícios para evitar desastres e atrair boa sorte para si mesmos; eles não
hesitam em culpar ou elogiar as pessoas por suas ações; e, finalmente, eles
trabalham para ganhar a vida.
Os
yorùbá exercem um livre-arbítrio que não é incomparável com o determinismo,
porque se diz que o livre-arbítrio depende da existência de certas condições
que determinam a natureza das ações humanas. Assumimos que, por nossas ações, como
treinamento moral, podemos fazer uma pessoa se comportar de certas maneiras. É
isso que a liberdade implica, porque mostra que, embora as ações humanas sejam
determinadas, pois são produtos de algumas condições antecedentes na história
da pessoa, essas ações não são, portanto, sem liberdade.
Ọládipọ̀,
portanto, como alguns outros, sugere que se a concepção yorùbá de destino
"não é mais do que uma construção ou dispositivo pragmático para explicar
fatores desconhecidos ou ocultos na existência humana, então isso parece ser
uma mera extensão de causas naturais.”[22]
Em
uma explicação relacionada, Gbádégeṣin afirma que os yorùbá não se contentam em
explicar ações humanas baseadas apenas em ações naturais. Isso ocorre porque se
caráter, esforço, sacrifício e dinamismo são essenciais para o sucesso, então o
conceito de destino não terá nenhum atrativo para eles. Ele crê, no entanto,
que os yorùbá não estão prontos ou preparados para eliminar o conceito de
destino de sua existência cotidiana porque, em última análise, "nem o bom
caráter, nem o dinamismo, nem o esforço garantem um sucesso que não esteja incluído
no destino de alguém".[23]
Devemos observar que, embora a posição de Gbádégeṣin permita a liberdade em um
extremo, ela nega no outro, pois todas as explicações devem, em última análise,
ser atribuídas ao destino.[24]
Pode-se
argumentar que a crença yorùbá na predestinação e no livre-arbítrio é complexa.
O que temos é uma situação em que o yorùbá médio abraça predestinação,
determinismo e pragmatismo. Por exemplo, Mákindé argumenta que o sucesso ou o
fracasso na vida depende não de ser capaz ou incapacitado ou de ter escolhido
um Orí bom ou ruim, mas também do uso de capacidades mentais.[25]
Portanto, como o objetivo de todo homem é ter sucesso na vida, é preciso
combinar os fatores metafísicos do Orí com os fatores físicos, como o corpo e
as habilidades mentais. Em outras palavras, uma pessoa é pragmática se for
capaz de combinar os vários fatores de tal maneira que a conduzam ao seu
sucesso na vida.
Portanto,
podemos dizer, nas palavras de Owómóyèlá que "os yorùbá são um povo
pragmático que deposita uma grande confiabilidade na prudência.”[26]
Ser pragmático deve ser entendido como significando que os yorùbá enfatizam a
prudência em assuntos que dizem respeito ao seu bem-estar.
O que vale ressaltar é que os yorùbá
acreditam tanto em agentes humanos quanto em metafísicos a respeito de sua
existência. O yorùbá crê em agentes humanos porque, como ser racional, ele
desempenha um papel importante na consecução de certos fins. Por isso, ele
trabalha, comporta-se bem na sociedade e se associa a outros seres humanos. Em
tudo isso, ele exerce sua liberdade. Isso, também, o torna primeiramente um
determinista, porque ele acredita que certas causas são responsáveis por
eventos particulares. Sua liberdade o guia na escolha das coisas apropriadas
para fazer.
Além
disso, para o indivíduo yorùbá, os agentes metafísicos são de importância
secundária e de último recurso. Ele apela, por exemplo, ao seu Orí (cabeça
interior / destino) quando seus esforços fracassam ou quando ele é dominado por
certas sucessos. O Orí também é de último recurso, porque todos os esforços, se
eles levam ao sucesso ou fracasso, estão finalmente situados nesse agente metafísico.
A razão para isso é, talvez, porque ele acha que a existência transcende o
mundo físico e a antecipação da morte o leva a pensar em uma força
impressionante que direciona toda a sua experiência.
CONCLUSÃO
Embora
possa parecer que a crença yorùbá na predestinação e no exercício da liberdade,
como vista na vida prática, seja contraditória, paradoxal e inconsistente,
nossa análise até agora sugere que não. A crença é bastante abrangente no
sentido de que abarca os aspectos físicos e não físicos do homem; em outras
palavras, “neste mundo” e no “outro mundo”, e é aqui que reside o pragmatismo
dessa visão. O indivíduo quer uma explicação para tudo que ocorre na vida para
ele e para os outros. E se a crença nos agentes metafísicos produz resultados
positivos ou negativos, ajuda-o, no entanto, a consolidar sua crença como um
ser em um mundo misterioso, onde as soluções não podem ser prontamente
fornecidas a todos os problemas por meio do esforço humano somente.
Dito
tudo isso, notemos rapidamente que com os avanços registrados na ciência e na
tecnologia - especialmente por meio da neurociência, biotecnologia e muitas
outras pesquisas de base psicológica, agora se entende muito sobre o
comportamento humano e o lugar da humanidade no mundo. Isso pode tornar inválidas
e vazias aquelas interpretações fatalistas do destino humano por estudiosos dos
sistemas tradicionais de crenças. No entanto, também devemos observar que,
apesar dessa percepção científica do comportamento humano, não se pode negar
que existem certas questões fundamentais sobre o homem que não são passíveis de
explicação científica. Por exemplo, perguntas como: Qual é a essência, o propósito
ou o objetivo da vida? Por que estou no mundo? O que acontece com a ẹ̀mí (o
princípio vital) quando um homem morre? E como alcançamos a felicidade?
As
perguntas acima, ao mesmo tempo em que tornam atraentes e relevantes outras
fontes de sondagem para a vida humana (como as metafísicas e religiosas),
também tornam problemática a interpretação da ciência como solução definitiva
para a situação humana. Talvez as questões levantadas aqui exijam mais
pesquisas multidisciplinares.
[1] Publicado
originalmente no Journal Philosophy, Culture, and Traditions. University of
Ibadan. Vol. 2, 2003
[2] Doutor em
Filosofia. É professor da Universidade de Ìbàdàn, Estado de Ọ̀yọ́, Nigéria.
[3] W. Abimbola,
"Iwapele: The Concept of Good Character in Ifa Literary Corpus", in Yoruba
Oral Tradition, ed. W. Abimbola (Ibadan: University Press, 1975); W. Abimbola,
IFA: An Exposition of Ifa Literary Corpus (Ibadan: Oxford University Press,
1976).
[4] Abimbola,
"Iwapele", p. 390.
[5] Ibid.
[6] Abimbola, IFA,
p. 133.
[7] Simpatética
pode ser entendida como existir ou operar por meio de uma afinidade,
interdependência ou associação mútua; inclinações ou disposição de alguém; agir
ou ser afetado por, da natureza de, ou pertencer à uma afinidade especial ou
relação mútua; conforme o gênio, a natureza, a essência de. N.T.
[8] Abimbola, IFA,
p. 133.
[9] Ibid.
[10] Ibid, p. 146.
[11] Abimbola,
"Iwapele," p. 392.
[12] Ibid.
[13] Ibid.
[14] Abímbọ́lá, IFA,
p. 146.
[15] Ibid. p. 147.
[16] Ver: S.
Gbadegesin, "Eniyan: The Yoruba Concept of Person", in The African
Philosophy Reader, ed. P. H. Coetzee and A. P. J. Roux (London: Routledge,
1998); E. B. Ìdòwú, “Olódùmarè: God in Yoruba Belief” (London: Longrnans,
1962); M.A. Makinde, "An African Concept of Human Personality: The Yoruba
Example, "Ultimate Reality and Meaning”, Vol. 7 (1984); S. Ogungbemi,
"An Existentialist Study of Individuality in Yoruba Culture; Orita, XXIV/2
(1992); O. Oladipo; "The Pragmatic Humanism of Yoruba Culture",
Journal of African Studies, Vol. 8, No.3 (1981).
[17] Ogungbemi, p.
105.
[18] Ìdòwú quoted
by Ogungbemi, Ibid.
[19] Ibid.
[20] Oladipo, p. 43.
[21] Reuben Abel
citado por Oladipo, Ibid.
[22] Oladipo, p. 46.
[23] Ibid.
[24] Gbadegesin, p.
167.
[25] Makinde, p.
198.
[26] Owomoyela,
1981, p. 127.