Culto de Òrìṣà (Orixá) não é adoração a ídolos
Por Ọba Adéyíká Òjòpagogo (International Council for Ifá Religion)
Tradução Mário Filho
A palavra “ídolo” é derivada do termo grego εἴδωλον (eídōlon) que significa imagem. No continente africano, nunca vi, li ou ouvi algo sobre a existência de uma imagem de Deus, seja na forma de uma figura, escultura, entalhe ou desenho que possa, indubitavelmente, provocar ou promover o pensamento do ser humano a fazer ideia de uma possível “morfologia” (corpo ou forma) de Deus. É muito claro para um yorùbá que Olódùmarè (Deus) é transcendental e, portanto, beira à abominação e autoengano representar Deus em qual forma for.
Reconhece-se que imagens podem ser concretas ou verbais. Dessa forma, para a mente de todo africano, Deus é a Força Suprema, devidamente reconhecida como real, ativa, viva e onipresente governando a terra e os céus e, de fato, todo o Universo.
É indiscutível, como explicamos anteriormente, que o modo de “serviço” à Força Suprema feita pelo africano (por iniciativa dos Òrìṣà), por meio de propiciações, que não há “imagem” visível de alguma forma que seja adorada. Objetos da Natureza, cujo benefício de seu uso foi encontrado pelos Òrìṣà (enquanto estiveram na Terra), são utilizados apenas como substrato para magnetizar a essência dos Òrìṣà que estão sendo propiciados. Os yorùbá creem que os Òrìṣà são intermediários entre eles e Deus quando invocados ou chamados (por súplica e outros meios); creem, também, que essa intermediação é desfeita quando os Òrìṣà são ignorados, negligenciados ou abandonados.
Por óbvio, deve-se reconhecer que há uma diferença entre “cultuar algo” e “estar diante de algo para cultuar”. Assim, a melhor forma de serviço a Deus é conhecida pelos intermediários, que possuem mais proximidade com Ele e estão sempre em Sua Presença. Assim, aceitar, chamar ou identificar a Religião Tradicional Yorùbá como forma de adoração a ídolos requer melhor entendimento a respeito do significado a palavra ídolo, por questão de lógica. Dessa forma, é um mau uso das palavras, feita por pessoas mesquinhas, que chafurdam em escárnio e infundada condenação as quais pertencem a eles quando, especialmente, encontram-se afastadas de pesquisas profundas e significativas daquilo que lhes pertencem. Os africanos não são, de modo algum, adoradores de ídolos em seu modo de culto à Força Suprema, pois agem em consonância com a realidade existencial do homem na terra em face às divindades “et al”.
No Odù Ìrẹtẹ̀gbè Ifá fala:
Aquilo com o que nascem não ganha sua própria admiração.
São os ideais estrangeiros que eles abraçam prontamente.
Consultou-se Ifá para o anzol que acompanha o peixe (na água).
Agora, porém, que todos os bens da vida estão fora de nosso alcance,
Deixe o anzol e nosso Orí atraí-los para nosso proveitoso benefício
Para o muçulmano que se interessa pelas tradições afro brasileiras, e mais que conviveu com a cultura e cultos e posteriormente conheceu toda a importância que se dá à adoração do Deus Único, no âmbito do Islam e sua cultura, esse texto é bastante importante. De fato, qualquer pessoa que tenha de fato sentido tanto a profundidade do culto do candomblé brasileiro como a energia e aprimoramento proposto pelas religiões tradicionais africanas, fica claro que não há idolatria. Que todos nós possamos ver mais com o coração e usar mais o olho da percepção interior, antes de condenar quem quer que seja. Parabéns pelo texto Babá Mario.
ResponderExcluirMuito obrigado!
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