Introdução à Umbanda
Omolokô[1]
Por Mário Filho*
O Babalorixá Ornato
José da Silva afirma, em seu livro, “Culto Omolokô: os filhos do
Terreiro”, que a palavra Omolokô é de origem Yorùbá e significa: Ọmọ (filho) e
Oko (fazenda). A fazenda, para o autor, seria a zona rural onde esse culto, por
causa da repressão policial que havia naquela época (início do século XX), era
realizado, ou seja, na mata ou em lugar de difícil acesso, no interior das
fazendas dos donos de escravizados.[2] Talvez,
por causa disso, possamos teorizar que hoje temos as denominações de
"Terreiro" e "Roça" para os lugares onde os cultos
afro-brasileiros e de matriz africana são realizados.
Podemos relacionar, também, o
significado da palavra Omolokô com o Òrìṣà Oko, Orixá da
agricultura ou com o Òrìṣà Irókò, Orixá que habita a árvore de mesmo nome e é
cultuado no Candomblé. Segundo se diz, o orixá Oko era cultuado no Rio de
Janeiro e era assentado junto com o Òrìṣà Ọṣọ́ọ̀si (Oxossi), pois Oko, assim como Ọṣọ́ọ̀si são caçadores, porém
não há dados suficientes que possam confirmar isso.
Outra associação que
podemos fazer é a sua relação ao vodun Loko cultuado pelo povo
Fon-Jêje, que tem como correspondente yorùbá o orixá Irókò, já citado, e que por sua vez,
corresponde ao Inkisi Tempo (Kitembo) na nação Angola de Candomblé. Na época em que os cultos
religiosos de origem africana eram proibidos, esse Orixá foi sincretizado a
Santo Onofre.
Pesquisas mais recentes
dão conta de que a origem do nome Omoloko, também está ligado ao povo Loko. A
tribo Loko estava dividida em tribos menores ao longo dos Rios Mitombo, Bênue e
Níger, e no litoral de Serra Leoa. Sua cidade principal era Lokoja, que
ficava muito próximo ao reino Yorùbá. Crê-se que alguns escravizados do povo
Loko, no Brasil, vieram a formar o que alguns chamam de Nação Omolokô.
Segundo Tata Tancredo
da Silva Pinto, organizador e o maior incentivador da Umbanda Omolokô, cujo
nome iniciático (Sunna[3])
era Fọ̀lkétu Olóròfẹ̀, o culto Omolokô chegou ao Brasil proveniente
do sul de Angola, onde era praticado por uma pequena tribo pertencente ao grupo
Lunda-Quiôco, que ficava às margens do rio Zambeze, que lhes fornecia
alimentação no período das cheias.
Para o músico e
escritor Nei Lopes o Omolokô seria um
antigo culto banto cuja expansão se verificou principalmente no Rio de Janeiro, na primeira metade do Séc. XX. O nome liga-se provavelmente ao quimbundo muloko, “juramento”; ou ao suto, moloko, “genealogia”, “geração”, “tribo”. Na Angola pré-colonial, Nganga-ia-Muloko era o sacerdote encarregado da proteção contra os raios.[4]
Podemos afirmar, então,
que o nome Omolokô define um culto originário do Rio de Janeiro com práticas
rituais e de culto aos Orixás, Bacuros/Inkices ou Voduns e que possui, também,
culto aos Caboclos, Pretos-velhos, Exus e demais Entidades Espirituais da
Umbanda em geral e outras entidades encontradas no Catimbó-Jurema, Toré,
Babaçuê, Tambor de Mina etc.
O culto Omolokô é
apontado por estudiosos do assunto e praticantes como um dos principais
influenciadores da formação da Umbanda africanizada ao lado do Candomblé de
Caboclo, da Cabula e do próprio Candomblé.[5]
Em que pese essa
ligação principal com o Rio de Janeiro, sabe-se que o Omolokô
organizou-se principalmente em algumas regiões do sudeste do país, que forneceram grande contingentes de migrantes para a capital do Estado da Guanabara. [...] O Omolokô era forte na zona da mata mineira, em todo o estado do Rio, no nordeste paulista e em parte do Espírito Santo – sobretudo nas áreas rurais. As correntes migratórias internas teriam trazido (ou reforçado) essa modalidade de religião afro-brasileira para o Rio de Janeiro – e elas existiam também em outras partes da cidade: Luiz Edmundo (1987, pp. 72-73), por exemplo, relata a existência, no início do século XX, de um Terreiro na antiga travessa do Castelo, comandado por um certo João Gamba, natural de Luanda, cujos rituais apresentavam formas muito semelhantes de incorporação e ressignificação de diferentes matrizes religiosas.[6]
No culto Omolokô as
divindades possuem nomes em língua Yorùbá, Fon-Ewe ou Congo-Angola. Na
maioria dos Terreiros Omolokô há o culto aos Orixás, em semelhança ao Candomblé
Ketu, por isso são utilizados os Oríkì (poemas laudatórios, que mencionam
os valores, atividade e importância de um Orixá, Rei, autoridade etc) para
homenageá-los. Os Orúkọ (nomes iniciáticos) são dados por meio da consulta ao
Jogo de Búzios. Seus "assentamentos" são semelhantes aos feitos
no Candomblé e os Exus são feitos em argila, à semelhança de um busto de uma
pessoa, ou então, simbolicamente, em ferro.
Tata Tancredo afirmava
que “a Umbanda é [gn] africana, é um patrimônio da raça negra” e que
achava graça quando ouvia os “líderes da Umbanda Branca dizendo que a religião
[apenas] sofre influência das tradições africanas”[7].
Para ele, a Umbanda é um culto de origem africana e esse viés africanista da
Umbanda pode ser visto em uma de suas afirmações: “Terreiro de Umbanda que não
usar tambores e outros instrumentos rituais, que não cantar pontos em linguagem
africana, que não oferecer sacrifício de preceito e nem preparar comida de
santo, pode ser tudo, menos Terreiro de Umbanda.”[8]
Para afirmar a característica africana da Umbanda e dar uma formação
intelectual aos praticantes do Omolokô, organiza no Rio de Janeiro o primeiro
curso de língua e cultura Iorubá.
Na Umbanda Omolokô há
iniciação para Orixá, Vodun ou Bacuro, com recolhimento do iniciando à
“camarinha” por um período não inferior a três dias. Além da chamada divindade
tutelar, que é assentado primeiro, o membro de um Terreiro de Umbanda Omolokô é
iniciado para mais duas outras divindades, que farão parte do “enredo”
espiritual do adepto.
Há, também, a
consagração para as entidades espirituais com as quais trabalharão, que serão
firmadas ou assentadas.
Várias casas de
Umbanda, cujas formas de culto são consideradas de cunho africanista,
originaram-se do culto Omolokô, ou das antigas Casas de Macumba que, mais
tarde, foram reconhecidas como praticantes do culto Omolokô, especialmente
depois da divulgação de suas práticas nos livros escritos por Tata Tancredo da
Silva Pinto. Essas Casas mantiveram uma estrutura de culto aos Orixás, em
harmonia com os guias espirituais.[9]
Sobre a Umbanda
Omolokô, podemos ver no sítio de Internet da Federação de Umbanda do Brasil
(FUB) a seguinte afirmação:
Não objetivamos afirmar que a Umbanda Omolokô seja a melhor ou a pior. Em minha concepção a Omolokô é a mais “original”, no sentido de manifestações, é a que mais se próxima daquilo que as entidades que povoam os cultos afro-brasileiros ou afro-ameríndios representam. No Omolokô as entidades não precisam se utilizar dos comportamentos “doutrinados”, em que tudo é padrão. As entidades podem se manifestar livremente e isso é muito desejável. Os Babalorixás e Yálorixás não determinam como as entidades devem se manifestar, apenas determinam como deve ser o comportamento ético do médium, colaborando com seu crescimento espiritual, atraindo para si entidades de Luz.[10]
[1] Esse
texto foi escrito em 2012 e revisado e corrigido em 2017, por mim, Mário Alves
da Silva Filho.
*
Sacerdote afro-religioso, dirigente do Templo Espiritual Pantera Negra e do Ilé
Ifá Ajàgùnmàlè Olóòtọ́ Aiyé. Especialista e Mestre em Ciências da
Religião, pela PUC/SP; especialista em História da África e do Negro do Brasil,
pela UCAM; especialista em Políticas Públicas de Segurança Pública, pela
PUC/SP; Bacharel e Mestre em Ciências Policiais de Segurança e Ordem
Pública, pela APMBB. Endereço eletrônico: ezezide@gmail.com
[2]
SILVA, Ornato José da. Culto Omoloko: os filhos do Terreiro. Rio de
Janeiro: Rabaço Editora, 1980.
[3]
Palavra de origem árabe que quer dizer tradição. Na Umbanda Omolokô se percebe
a influência dos malês (muçulmanos negros escravizados)
[4]
LOPES, Nei. Enciclópedia brasileira da Diáspora Brasileira. São Paulo: Selo
Negro, 2004, p. 497.
[5]
OMOLU, Caio de. Umbanda Omolocô: liturgia, rito e convergência. São Paulo:
Ed. Icone, 2002.
[6]
CUNHA, Mª. Clementina Pereira. Não tá sopa: sambas e sambistas no Rio de
Janeiro, de 1890 a 1930. Campinas: Ed. UNICAMP, 2016, s/p.
[7]
FREITAS, Byron Torres de & PINTO, Tancredo da Silva. Camba de Umbanda.
Rio de Janeiro: Editora Souza, 1956.
[8]
Idem.
[9]
OMOLU, Caio de. Op Cit.
[10]
Disponível em: http://www.fub.org.br/artigos/?art=omoloko.
Acesso em 11/06/2012.
Bom dia Senhor Mario Filho, Há pouco mais de dois meses a misericordia de Eledumare deu - me encontrar, no You Tube ,suas publicações a respeito de várias vertentes de culto de matriz africana. Sou Helder Fernandes, temos em comum que sou policial , Professor licenciado em Letras, feito para Osoguian há 40 anos, nação Efon, sendo a Matriarca da casa a Ya Kita de Oya, do Ase Oya Bomin, no Rio de Janeiro. Com todo esse tempo de "feito no santo carrego" a busca constante de uma verdade sobre o culto tradicional, onde alguém honesto e direto explicasse essa febre que assola o Brasil. Inúmeros vagabundos espertos, marmoteiros, apresentam-se como babalorisás nas plataformas virtuais, fico desolado com tanta gente safada inventado moda para tirar dinheiro de outras pessoas imbecis. Sua fala direta , "bem polícia ", destravou a minha desconfiança e resolvi seguir suas postagens. existe alguma oportunidade de o Senhor vir ao Espirito Santo para que eu pudesse lhe avistar e consultar o oráculo de Ifá e posterior providências? sou vitima daquela cabala de numeros para localizar Odu, o cálculo dá 9 nos quatro cantos: Ossá! Nasci em 14.11.1964. Creio que uma consulta com um Babá de culto tradicional sèrio como o Senhor, vai me ajudar muito. Tem muita coisa errada nesses 40 anos de iniciado que me dão prejuizos e uma canseira danada. Grato
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