Por Mário Filho[1]
Muito se questiona
sobre os trabalhos espirituais na Umbanda Omolokô, especialmente no contexto de
um culto híbrido ou mestiço. A Umbando Omolokô nasce no final doss ano 1940, motivada pelo
Tata ti Inkice Tancredo da Silva Pinto , cuja pequena biografia pode ser vista
em https://sites.google.com/site/caboclopanteranegra/textos-doutrinarios-e-informativos/tancredo-da-silva-pinto---pequena-biografia-do-incentivador-da-umbanda-omoloco). Tata Tancredo não aceitava o embranquecimento da Umbanda e seu consequente afastamento de suas origens africanas.
Para evitar esse
processo de embranquecimento, principalmente após o 1º Congresso Brasileiro de
Espiritismo de Umbanda, realizado em 1941 (análise desse Congresso pode ser
vista em https://sites.google.com/site/caboclopanteranegra/textos-doutrinarios-e-informativos/importancia-do-estudo-da-mitologia-africana) Tata Tancredo divulga vários textos, inclusive no jornal carioca O
Dia, falando da origem africana que tem a Umbanda e que esta não deve se
afastar, nem abandonar sua origem africana.
Ora, sem dúvidas a Umbanda é
fruto da mestiçagem e da hibridação, conforme aponta GRUZINSKI[2] (2001, p. 62). Para
SILVA FILHO
ela (Umbanda) é uma mescla de várias tradições
mágico-religiosas: catolicismo popular, espiritismo popular, pajelança, culto a
divindades africanas (Orixás, Inkices, Bacuros e Voduns) e, hodiernamente,
manifestações da Nova Era, tais como cromoterapia, florais, aromaterapia,
reiki, contato com seres interplanetários etc.[3]
No entanto, as maiores
influências no culto da Umbanda Omolokô são as divindades de origem africana e
as entidades do Universo Umbandista e de outras manifestações afro-brasileiras
ou afro-ameríndias, tais como o Terecô, o Catimbó-Jurema, a Encantaria, a Barba
Soera ou Babaçuê, o Santo Daime, a Barquinha etc.
Num trabalho
espiritual da Umbanda Omolokô podem ser vistas entidades de todos os cultos
citados anteriormente, sendo que isso não é uma estranheza. Há as entidades
clássicas da Umbanda, tais como Preto(a) Velho(a), Criança, Caboclo, Exus e
Pombagiras, e de outros cultos tais como os Marinheiros (da Barquinha, Santo
Daime e Encantaria); Mestres do Catimbó-Jurema; Encantados da Encantaria (animais
que se manifestam mediunicamente: boto, onça, jaguatirica, aves etc, ou seres
míticos: sereia, iara etc), Barba Soera (Babaçuê), Terecô etc.
Pode-se afirmar que não existe apenas uma
Umbanda, há várias, conforme se pode ver em inúmeros endereços da
Internet. A Umbanda Omolokô é uma dessas Umbandas. Academicamente podemos
concluir que a Umbanda é fruto da modernidade ou pós-modernidade, em que a
individualidade “fala” mais alto. Como afirma SILVA FILHO
o campo religioso brasileiro, além de
mestiço, é sincrético, híbrido e multicultural, fruto de miscigenações
variadas, de novas construções e de ressignificações e/ou, talvez, fruto da
pós-modernidade, em que a livre escolha e a múltipla pertença sejam a mola
mestra das bricolagens que visam a satisfazer as aspirações individuais.[4]
Como se pode ver no
sítio de Internet da Federação de Umbanda no Brasil (FUB), temos que a Umbanda
Omolokô é a que mais se aproxima do campo religioso afro-brasileiro, pois
amálgama, em si, diversas manifestações próprias de sua formação:
Não estamos a julgar esta ou aquela expressão umbandista, nem queremos
dizer que a Umbanda Omolokô seja melhor ou pior. Em nossa concepção a Umbanda
Omolokô é a mais “honesta”, no sentido de que sua manifestação é a mais próxima
daquilo que as entidades que povoam os cultos afro-brasileiros ou
afro-ameríndios representam. Na Umbanda Omolocô as entidades não precisam se
utilizar dos comportamentos “doutrinados” em que tudo é padrão. Na Umbanda
Omolokô as entidades podem se manifestar livremente, e isso é muito desejável.
Não são as pessoas que determinam como as entidades devem se manifestar, mas o
comportamento ético do médium, que com sua melhora ética cresce
espiritualmente, atraindo para si entidades com o mesmo comportamento.[5]
[1]
Sacerdote afro-religioso. É dirigente do Templo Espiritual Caboclo
Pantera Negra (Terreiro de Umbanda Omolokô) e do Ilé Ifá Ajàgùnmàlè Olóòtọ́
Aiyé. É Erìnmì Awo da cidade de Ìjágbó, Estado de Kwárà, Nigéria e
o Líder (Olórí Ẹbí) da família de Ifá do Àràbà Olúsọjí Oyékàlẹ̀ para o
Brasil. Especialista e Mestre em Ciência da Religião (ambas pela PUC/SP),
Especialista em História da África e do Negro no Brasil pela UCAM/RJ; Bacharel
e Mestre em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, pelo Centro
de Altos Estudos de Segurança; Especialista em Políticas Públicas de Gestão em
Segurança Pública (PUC/SP). Endereço eletrônico: ezezide@gmail.com
[2]
GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
[3]
SILVA FILHO, Mário. Campo religioso brasileiro é mestiço. Trabalho
apresentado ao Curso de Antropologia da Religião, do Curso de pós-graduação
stricto sensu da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010, pág. 03.
[4]
Idem, pág. 04.
[5]
Sítio da Federação de Umbanda do Brasil (FBU) em que há a descrição da Umbanda
Omolokô. Disponível em: http://www.fub.org.br/artigos/?art=omoloko.
Acesso em 11/06/2012.
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